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29/01/19

Admirável mundo chinês

Lá por volta do ano 806, a China inventou o dinheiro em papel, que só chegou à Europa em 1661, a partir da Suécia. Com 4.716 anos de história, o país inventou uma série de coisas que usamos até hoje, como papel, pólvora, macarrão, carrinho de mão, álcool, fogos de artifício, asa delta, seda, garfo, escova de dente, entre muitas outras.

Por isso, não é surpresa para mim que a China - e não os EUA - esteja criando as maiores mudanças na vida das pessoas a partir da tecnologia digital. O país tem a vantagem da população, de mais de 1,3 bilhão de pessoas, disponível para testar novos produtos e serviços.

Também tem um governo autoritário que pode acelerar a adoção de novas tecnologias impondo regras. Mas é a criatividade chinesa para inovar, aliada à enorme vontade de aderir a novidades e a capacidade de absorver novos parâmetros facilmente que vem fazendo uma revolução.

Enquanto o papel moeda ainda é o meio dominante de pagar coisas no Brasil e na maior parte do mundo, na China ele só é usado por turistas. Voce não vai ver nenhum chinês pagando nada em espécie. Aliás, até o cartão de crédito já é coisa do passado para eles.

Os chineses aderiram de forma frenética aos aplicativos de smartphones. Alguns dos melhores do mundo são de lá, como os da Xiaomi, já superiores ao iPhone a aos Samsungs da vida. O preço baixo, aliado a características poderosas, fez com que praticamente todo chinês tenha um.

A partir daí, a adesão aos aplicativos explodiu, com destaque para o AliPay e o WeChat. Este último é impressionante, unindo serviços que voce só encontra separados no ocidente, como se fosse uma mistura de WhatsApp, Instagram, PayPal, app de notícias e de jogos.

Hoje ele é usado por 1 bilhão (!) de pessoas e basicamente os chineses “moram” no aplicativo, que usam para tudo, inclusive pagar as compras do mercado, o lanche, o café na padaria e até para dar esmolas, porque todo mendigo tem um celular e conta no WeChat.

O que não é pago pelo WeChat, é pago pelo AliPay (mais de 870 milhões de usuários) e sua carteira virtual. Através dele voce paga qualquer coisa, mesmo que custe centavos, transfere e recebe dinheiro, paga contas de água e luz, impostos e seguros; gerencia sua conta de banco, compra passagens de transporte público e comida, etc.

A novidade é que, depois de inventar e acabar com o dinheiro em papel, o AliPay vai sumir com os documentos em papel. A seção City Services já tem a carteira de motorista, passe de ônibus, cadastro da escola e identidade (os equivalentes ao RG e CPF) virtuais.

O aplicativo acaba de incluir o registro de casamento. Os noivos colocam sua senha, fazem o reconhecimento facial por ele, entram com os dados e pronto. Estão oficialmente casados no civil e registrados como uma nova famlia junto ao governo.

Usando o aplicativo, voce pode dar entrada em hospitais, se identificar em empresas, fazer check-in para viajar em trens, ônibus e aviões. Substitui sua identidade em todo lugar. Resumindo, o chinês pode carregar apenas seu celular no bolso.

Não precisa carteira nem dinheiro. Só uma tomada para carregar o aparelho...

Posted by at 12:09 PM
Edited on: 27/03/19 4:54 PM
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14/01/19

A redenção do militar

Depois de 3 anos de recessão e um de início de saída da crise, finalmente há sinais claros de recuperação da economia. Em boa parte por causa da eleição de Bolsonaro, que gerou otimismo desde os empresários até a população.

Ele vem fazendo ótimas escolhas para os ministérios, com pessoas que têm o perfil do projeto “comprado” pelos eleitores, de um estado mais enxuto, sem mordomias, sem corrupção, que valoriza o mérito e direitos essenciais como o de propriedade, desprezados nos 14 anos de domínio do PT.

O pessoal da esquerda já critica um governo que mal começou, baseado em suas diarreias mentais preconcebidas em anos de lavagem cerebal. Pintam Bolsonaro como um ditador, anunciam que vai acabar com direitos, bla, bla, bla.

Defensores de ditaduras como Cuba, acusam de ditador um presidente eleito de forma democrática.

Um homem que sempre seguiu as leis e já abriu diálogo direto com o STF e o Congresso. Tudo porque ele é militar e os militares “são ditadores”.

Talvez seja verdade em Cuba e na Venezuela, ditaduras comandadas por ex-militares, mas o Brasil é outra coisa. É impossível hoje impor uma ditadura por aqui. Como, aliás, Lula descobriu ao ver seu projeto de reeleição infinita ser rejeitado por um Congresso onde tinha maioria.

Outros projetos típicos de ditaduras foram rejeitados, mesmo Lula tendo a maioria dos deputados comprados e pagos. Foi o caso da tentativa de amordaçar o Ministério Público proibindo revelar qualquer investigação, ou do “conselho de jornalistas” que censuraria notícias contra o governo e suspenderia profissionais.

O Brasil não aceita ditadores. Em 1964 foi às ruas contra a tentativa de implantar uma ditadura de esquerda com apoio da Russia e de Cuba.

Os militares assumiram para evitar isso e acabaram ficando no poder até os anos 80. Censuraram a imprensa e torturaram vários terroristas de esquerda. Prenderam outros.

Nisso, foram iguais a Fidel Castro, Hugo Chaves, Ortega e outros ditadores endeusados pela mesma esquerda que critica militares. Aliás, iguais não, porque Fidel mandou matar muito mais gente, vários por ser gays. Ele, Chaves e Ortega também viraram milionários, coisa que não aconteceu aqui.

O melhor sempre é não ter nenhuma ditadura. Mas, entre uma ditadura de esquerda e uma de direita, fico com a segunda. Pelo menos as de direita são competentes.

A dos militares construiu 80% da infraestrutura que temos, da usina de Itaipu à BR-101. Criaram o Banco Central, Polícia Federal, Embratel, PIS, Pasep, FGTS, Eletrobras, as maiores hidroelétricas, o pro-alcool (inovação mundial).

Mais importante ainda. Todas as acusações de corrupção feitas pela esquerda se provaram falsas.

Dou dois exemplos que lembro de cabeça. Um, Mário Andreazza, por cujas mãos passaram bilhões de dólares das obras, todas enormes, feitas pelos militares.

Diziam que ele recebia uma porcentagem em cada obra. Morreu pobre, com os amigos fazendo uma vaquinha para o enterro, porque a viúva não tinha como pagar.

Outro foi João Figueiredo, presidente que fez a fase final da transição para a democracia, iniciada por Geisel. Depois que saiu da presidência, prevendo que a corrupção seria endêmica com civis, tinha dificuldade para comprar remédios e era ajudado por amigos. Morreu pobre.

Só para comparar, Lula entrou na presidência com um patrimônio de R$ 40 mil e, apenas 4 anos depois, declarava ao TSE R$ 4 milhões. Hoje, ele é milionário. Mais ainda depois de herdar milhões que Marisa deixou sem ter trabalhado.

O preconceito que a esquerda enfiou na cabeça dos universitários durante anos também ignora a história do Brasil e afronta vários outros presidentes militares que fizeram muito pelo país, como Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Hermes da Fonseca e Eurico Gaspar Dutra.

Bolsonaro e os ministros militares estão na condição de provar o valor da classe e acabar de vez com o preconceito.

O Brasil precisa de um governo decente, para o qual queira bater continência.

Posted by at 11:05 AM
Edited on: 27/03/19 4:53 PM
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A vida fora do celular

O celular é ferramenta fantástica e as redes sociais muito boas para manter contato. Mas quando voce passa a viver só em função delas, como pencas de gente que conheço, passa a desperdiçar a vida, a não ver ela passar.

Quando um grupo de amigos se reúne, o grande prazer é jogar conversa fora, trocar ideias, gozações e futricas, mas tem gente que só consegue fazer isso pelo WhatsApp. Observe as mesas num bar e verá que em muitas estão todos olhando o celular e ninguém conversando.

Nas festas de Natal e aniversários é a mesma coisa. Cada um está “conversando” com alguém pela rede social e ninguém está se falando, mesmo um ao lado do outro. As pessoas pensam que estão “socializado” quando na verdade se isolam cada vez mais.

Tem gente que fica teclando no cinema, por mais absurdo que pareça. Era melhor não ter ido. Um exemplo perfeito de desperdício da vida por causa do celular são as viagens.

Ele é muito útil para buscar informações sobre o local, usar mapas e GPS, traduzir placas e até conversar em outra língua em tempo real usando o Google Tradutor.

Mas se torna um prejuízo se a pessoa passar o tempo todo teclando com amigos pelo WhatsApp ou postando fotos no Instagram ao invés de mergulhar na cultura local. Na volta, só vai lembrar dos lugares se olhar as fotos que tirou, porque em sua memória será como se nunca estivesse lá.

Se for viajar assim, melhor ficar em casa e visitar as cidades pelo Street View. O resultado será parecido. Voce terá todas as informações visuais sem nenhuma sensação, sem nenhuma ligação pessoal com nada, sem saber como cheira e soa o lugar.

Para que ir a Paris e ficar olhando o celular? Voce não vai ouvir os sons da capital. Nem as conversas na rua, os vendedores haitianos de guarda-chuvas. Não vai sentir o cheiro das flores, dos cafés, dos croissants e do pão quente nas padarias, das castanhas cozidas.

Voce não vai sentir o contraste do frio da rua com o calor dos prédios, não vai sentir a atmosfera de um típico café parisiense, curtir as margens do rio Sena, ver os mais velhos jogando bocha num cantinho de rua. Voce não vai saber o que é jantar no Champs Elysee.

Uma viagem, para ser marcante, precisa ser imersiva, para que voce mergulhe na cultura, costumes, culinária, paisagens, sons, cheiros e cores da cidade. Fotos e videos só têm uma dimensão, selfies não incluem sensações. É preciso viver a viagem.

Apesar de ser apaixonado por fotografia, passei por muitos lugares sem tirar um foto sequer, porque estava ocupado vivendo a experiência. Foi assim em Stein-am-Rhein, por exemplo.

Cheguei nesta pequena cidade medieval da suíça de trem, por volta das 6 horas, num dia bem frio. As ruas estavam cobertas com um “lençol” de neblina e totalmente silenciosa. Ao passar pela entrada, ouvi ao longe um grupo tocando música de coreto. No rio Reno, logo abaixo, um senhor pescava num barquinho colorido.

Perto de uma praça senti o cheiro gostoso de café e parei para beber um na varanda de um restaurante. Aos poucos a cidade foi acordando.

Vi passar crianças indo para a escola em fila, em ordem, sem nenhum adulto por perto. Lá não precisa. Vi moradores indo para o trabalho, vi uma senhora varrendo a calçada.

O som da música do coreto se misturava com as conversas, os primeiros carros.

Com sons de pássaros, um gato marrom que morava no restaurante miando, risos. O sol começou a aparecer baixinho, iluminando as casas de uma maneira especial, enquanto a neblina ia sumindo.

Um vento fraco e frio batia no rosto, em contraste com cada gole do cappuccino que eu estava bebendo. Entre um gole e outro, me divertia soprando “fumaça”. Todas as pessoas que passavam me davam bom dia e sorriam. Eu podia me dedicar a filmar ou fotografar.

Mas nenhuma foto, nenhum vídeo, consegue te dar essa experiência, que se torna parte de voce por ter sido vivida, e não fotografada.

Fotos são deletadas, perdidas. Memórias, nunca.

A não ser que voce tenha Alzheimer, claro...

Posted by at 11:03 AM
Edited on: 27/03/19 4:51 PM
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Tiroteio entre cegos

Beber, na Itabuna dos anos 80, era quase uma religião, mas nada de cachaça. O pessoal era cosmopolita, gostava de uisque 12 anos, com alguma licença para o Hi-Fi (vodka com suco de laranja), a cuba libre (Coca Cola e rum), Campari e Martini. Mas o forte era mesmo o uisque.

Essa mania de encher a cara toda vez que saía é coisa da época. A galera de hoje cresce com muito mais consciência. Sempre vão existir uns babacas dedicados a "comer água", mas a maioria implica até com a cerveja, que nunca fez mal a ninguém (bebida para saborear, não para cair de quatro).

Mas, na Itabuna dos anos 80, se bebia e muito. Um detalhe para quem tem medo da posse de arma é que naquela época quase todo mundo andava armado. Era comum usar uma pochete com um 38 dentro, se bebia como nunca, e mesmo assim as mortes eram poucas.

Voltando ao assunto, existia um barzinho na Avenida do Cinquentenário, na esquina do Lord Hotel, o Fornalha. O lugar era muito frequentado pelo pessoal jovem adulto, a maioria ainda estudando na faculdade, entre a era de adolescente e a adultice de responsabilidade.

Num certo dia, com o bar lotado, um amigo que hoje é advogado respeitado já tinha bebido até as orelhas e começou a discutir com outro amigo meu, hoje empresário (parece que, mesmo quase não bebendo, tenho muitos amigos bebedores...)

De repente, o segundo sacou um 38 da pochete (é, aquele povo usava pochete... credo). O primeiro também sacou um 38 e correu para o outro lado da rua. Ficou cada um numa esquina e começaram a atirar. Foram muitas balas, gritos, correria, meninas em pânico, uma confusão.

No fim, acabadas as balas, os dois foram acalmados pelas namoradas, voltaram para a mesa e retomaram a conversa como se nada tivesse acontecido. O delalhe que sempre me chamou a atenção nesse episódio é que nenhum dos dois acertou em nada. Até hoje ninguém sabe onde as balas bêbadas foram parar.

Coisas de uma Itabuna agitada que morreu no século passado. Hoje, tiroteios não têm a menor graça, ninguém faz as pazes e os tiros são sempre de bandidos matando o concorrente. Mas muita gente ainda sai para "comer água" até cair.

Posted by at 11:02 AM
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Tempo de letras amenas

O ano está só começando e o clima é de férias até para quem está trabalhando, então vou apenas divagar nesta carta e lembrar alguns casos.

Lembrei de uma tarde na chácara onde morávamos, em Itabuna. Meu pai, Manoel Leal, tinha alguns amigos "entendidos" em uisque, daqueles malas que ficavam citando características totalmente chutadas, com a cara mais séria do mundo.

Não vou citar nomes, mas um era dono de serraria e o outro de olaria, ambas no Jaçanã... Os dois chegaram lá em casa numa tarde de domingo, sentaram numa mesa na varanda e ficaram batendo papo durante um tempo, até que um deles perguntou "cadê o 12 anos?"

Sempre muito brincalhão, meu pai trouxe uma garrafa do nacional e péssimo Old Eight e colocou na mesa. Na mesma hora, o que pediu começou um discurso intenso sobre o que era um uisque de verdade e malhou sem dó o pobre do Old Eight.

"Nezinho, leva essa porcaria embora e me traga um uisque de verdade, porra!" Nezinho era como os amigos chamavam meu pai que, fazendo a maior cara falsa de resignado, foi buscar uma garrafa de Ballantine's 12 anos. Imediatamente o amigo iniciou outro discurso, enaltecendo o "verdadeiro uisque".

Essa turma não era de beber só uma garrafa, até porque o papo entre eles ia longe. Coisa de amigos. Por isso, a dupla já esperava que viessem outras garrafas do 12 anos, muito popular entre quem bebia na época em Itabuna, nos anos 80.

Enquanto eles discutiam a política local, meu pai foi comigo até a cozinha e encheu várias garrafas de Ballantine's, que tinha guardado, com... Old Eight. Como expliquei lá na coluna, depois de algumas doses sua língua é incapaz de distinguir entre duas bebidas alcoolicas.

O papo foi correndo solto e as garrafas de "Ballantine's" descendo. Um momento que lembro e sempre me traz um sorriso foi o comentário de um deles, solene, apontando para o copo cheio de Old Eight: "Nezinho, aprenda que isso aqui é que é uisque, não aquela porcaria que voce queria me dar!"

Pois é, aquilo de bêbado não tem dono e boca de bêbado não tem gosto.

Posted by at 11:01 AM
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