25/02/20
Como Al Capone
O gangster Al Capone, capo da Cosa Nostra ou máfia italiana nos EUA, cometeu dezenas de crimes, mas viu sua impunidade acabar por causa de um dos menores deles: deixou de pagar um imposto.
O prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, cometeu dezenas de crimes ao longo de sua vida política, condenado várias vezes, mas viu a sua impunidade acabar por um crime “menor”.
Gomes já foi condenado no Tribunal de Contas da União, no Tribunal de Contas dos Municípios, no Tribunal de Justiça da Bahia e na Justiça Federal em incontáveis vezes, inclusive à pena de cadeia por desviar recursos federais da Saúde, além de ser suspeito de mandar matar o jornalista Manoel Leal em 1998.
Mesmo condenado, se manteve concorrendo e sendo eleito usando infinitos recursos e liminares, algumas suspeitas.
Hoje a sua impunidade acabou por causa da contratação ilegal de apenas dois servidores para a Zona Azul em 2004, sem concurso, o que é ilegal.
Foi o primeiro a chegar na etapa de “transitado e julgado”, quando não cabe mais entrar com recursos nem pedido de liminares, que são rejeitados.
Ao contrário das outras condenações, que suspenderam os direitos políticos por 8 anos, nesta foram apenas 3.
Mas o suficiente para que Fernando saia da prefeitura de Itabuna pela porta dos fundos e fique impedido de concorrer à reeleição, como pretendia, com apoio do petista Rui Costa.
Nas últimas três eleições de que participou Gomes estava com os direitos suspensos, mas ainda com possibilidade de recursos e de usar liminares.
Desta vez não há qualquer opção. Nem para concorrer, nem para ficar no cargo. A extinção do mandato de quem tem direitos políticos suspensos é uma exigência do Código Penal e da Constituição.
Ironicamente, Itabuna verá a saída de Fernando Gomes e a posse de Fernando Gomes, porque o vice, Fernando Vita, também tem o sobrenome.
A Justiça falhou em frear os crimes de Fernando Gomes nas últimas décadas, deixando que chegasse aos 81 anos sem uma punição sequer.
Condenado desde os anos 80, FG contou com a leniência de nossas leis e a preguiça de nosso judiciário para ficar rico (apenas com salários públicos, se voce acreditar nisso) e ter o poder por 5 mandatos.
Outros processos devem chegar ao trânsito e julgado antes de 2023, quando acaba a suspensão dos direitos de FG, o que significa que sua carreira criminosa como gestor acabou.
Assim como tudo na vida, Fernando Gomes também passa e um dia acaba.
Vai continuar mandando na prefeitura até o fim do ano, porque o vice, Vita, é tradicional “pau mandado” de Gomes.
Ele até poderia decidir sair da história por cima, com decisões próprias, abertura de auditorias nos atos de Gomes e reforma da máquina, porém, também octagenário, Vita deve mesmo se conformar com seu papel de marionete e terminar a atual gestão como apenas uma sombra de prefeito.
Um detalhe da extinção do mandato é que os atos de Fernando Gomes assinados depois de 11 de novembro, data em que ele foi comunicado da suspensão de seus direitos, são nulos e devem ser cassados.
Não todos. Contratações dentro da lei, via concurso, por exemplo, são mantidas. Porém o aumento da passagem de ônibus, as doações de terrenos para amigos e tudo o que pode ser revogado sem sequelas para a cidade deve ser anulado.
A saída de Fernando Gomes para a lata de lixo da história também muda os planos de muita gente para as eleições deste ano.
O governador Rui Costa, que tem ligação com criminosos condenados, casos de Lula, José Dirceu e o próprio Cuma, perde o nome que queria apoiar.
Era sua desculpa para não dar apoio a Geraldo Simões, que detesta, ou a Augusto Castro, um vira casaca que deixou a oposição para aderir ao PSD de Otto, parceiro do PT.
Rui será pressionado a dar apoio justamente ao candidato do PT, que deve ser o finado Simões, sem chances. Ou apoiar Augusto Castro, que não tem como explicar ao eleitor sua mudança de lado. A última alternativa é apoiar Azevedo, de triste lembrança com sua gestão caótica e controlada por Gomes, de quem foi vice.
A eliminação de Gomes muda a movimentação das peças, mas o xadrez continua o mesmo.
As tragédias de cada época
Cada época tem suas “tragédias”. As de hoje podem ser ficar sem internet, perder a melhor parte do filme na tv por satélite por causa da chuva, o WhatsApp ficar várias horas fora do ar, a tela do celular rachar ou perder tudo que estava no PC. Coisas dos anos 90 para cá.
Porém, as pessoas que viveram os anos 80 passaram por tragédias bem diferentes. Uma delas era ficar sem fichas justamente no meio da ligação no orelhão. Se achasse um que funcionasse. Outra era o cartucho do Atari falhar “mesmo voce assoprando”.
Voce voltava das férias, mandava revelar os filmes e descobria que todas as suas fotos estavam desfocadas ou o filme queimou porque voce não rebobinou direito. Maravilhas da foto analógica: suspense e mistério até revelar o filme.
Trágico era ver a agulha do toca-discos sair riscando seu LP mais precioso. Ou o toca-fitas “mastigar” a fita cassette.
Já a televisão dependia da posição da antena, que por ser leve, saía sempre da posição.
Se existiam dois canais em lados opostos da cidade, ou voce pegava bem um ou o outro. Era comum ver gente em cima do telhado girando a antena, gritando “melhorou?” De baixo vinha a resposta, “o 4 melhorou, mas o 5 saiu do ar”.
Por falar nisso, a tevê só tinha dois canais no interior e 4 ou 5 nas capitais, o que levava todo mundo a alugar filmes para ver em casa. Mas não era tão fácil quanto assinar a Netflix ou comprar da tv por assinatura.
Voce assistia filmes em fitas VHS, que precisavam ser “rebobinadas” antes de devolver para a locadora. Sim, voce tinha que ir até uma locadora. Muita vezes a fita embolava ou a cabeça do player sujava.
Pesquisa tinha que ser feita em uma enciclopédia, um conjunto de 20 ou 30 livrões com tudo o que se sabia. Rotas, só com mapa de papel, que às vezes estava desatualizado.
Voce esperava asfalto e encontrava poeira e lama.
“Digitar” tinha que ser em uma máquina de escrever. Se voce errava uma palavra, podia passar um corretivo. Mas se errava mais, jogava a folha fora e começava tudo de novo. Às vezes a fita ficava sem tinta na parte mais importante... e era domingo. Adeus trabalho.
Pessoas mal educadas fumavam dentro do ônibus ou do avião. E, como a Lei de Murphy não perdoa, isso acontecia justamente do lado de quem não fumava. Ah, você pensava que ia morrer porque engoliu uma bala Soft.
Sem referências, voce tinha que “tirar a letra” de uma música em inglês ouvindo e anotando. Só para descobrir depois, no curso de inglês, que tinha ouvido tudo errado. Mas era tarde demais, porque voce decorou dessa maneira e ia cantar errado pelo resto da vida.
Para saber quanto tinha no banco ou pagar um boletoera preciso ir até a agência.
Agenda e lista de contatos eram em papel e tinham a mania de ser perdidas. Enviar um documento para alguém em outra cidade, só pelo correio.
Cada texto que voce fazia e cada documento tinham que ser guardados em pastas ou caixas, que iam se amontoando dentro de casa e no escritório. Para pedir um táxi, voce tinha que saber o número da “praça”, ligar e ver quem estava disponivel. Eu te contei que o telefone era só fixo?
Em dias frios, seu carro precisava “esquentar” antes de sair. Ele vivia tendo que limpar ou ajustar o carburador. O som era de rádio ou de fita cassette... mas esta era mastigada vez por outra pelo toca-fitas. Voce já sabia, te contei lá em cima.
Existiam duas gasolinas. Uma que era uma porcaria.
A outra, a “azul”, tinha melhor qualidade. Mas voce comprava a primeira e jogava um aditivo Bardahl no tanque. Os carros andavam no máximo 300km sem reabastecer e existiam imensos trechos de estrada sem nenhum posto.
A inflação era de mais de 30%... ao mês e chegou a 84% no governo de José Sarney. Voce ligava para saber o preço e te davam assim: “posso segurar até meio-dia, depois aumenta”. Para comprar alguma coisa voce tinha que ir até a loja. Se o produto não existia em sua cidade, a solução era pedir para alguém que fossse viajar trazer. “Mas, pelamordedeus, não me dê spoiler da novela”. Sim, os capítulos passavam aqui uma semana depois das capitais.
Pois é, cada época tem suas pequenas tragédias.
04/02/20
Violência na Alba vem de longe
A Bahia viveu mais um dia de vergonha nacional na sexta-feira, 31 de janeiro. Teve a Assembleia Legislativa invadida por manifestantes ligados a sindicados comandados pelo PCdoB e pelo PT do governador Rui Costa, que amargou uma dose do próprio remédio. Ou melhor, do remédio que o PT sempre impõs contra adversários.
Os marginais que invadiram a Alba, entre eles servidores e policiais armados, jogaram ovo nos deputados da base governista, inclusive no presidente da Casa, Nélson Leal. Depois ocuparam as cadeiras do plenário. Um deles sacou uma arma e apontou para a cabeça do deputado Alan Sanches (DEM).
Um segundo agrediu fisicamente o deputado Paulo Câmara (PSD). Outros deputados e manifestantes saíram no soco, numa pancadaria que ganhou vídeos espalhados pela internet. O sujeito que sacou a arma é um agente penitenciário, que deveria ser imediatamente suspenso e preso preventivamente. Não foi.
Nélson Leal, que passou por quatro partidos e hoje está no PP, aliado do PT, afirmou que nunca tinha visto um protesto selvagem como este, "em nenhum Parlamento do mundo". Parece que ele esqueceu do histórico de invasóes violentas praticadas pelo grupo que apoia.
Em junho de 2006 o MLST, de Bruno Maranhão, da executiva nacional do PT e amigo do então presidente (e hoje corrupto condenado) Lula, invadiu e depredou todo o prédio do Cogresso Nacional, destruiu equipamentos, quebrou portas e até virou um carro. O PT não condenou, nem Lula.
Em setembro de 2013, militantes da CUT, braço sindical do PT, tentaram invadir a Câmara dos Deputados contra a terceirização. Jogaram garrafas e pedras nos policiais da guarda legislativa, que teve que usar spray de pimenta para conter os arruaceiros.
Em abril de 2017, policiais filiados aos sindicatos comandados pelo PT e PCdoB tentaram invadir o Congresso, armados, contra a reforma da Previdência do então presidente Michel Temer. Quebraram portas de vidro e só foram contidos com gás lacrimogêneo.
Em julho de 2017, durante a votação da reforma trabalhista, cinco senadoras do grupo do PT impediram o presidente do Senado de ocupar seu posto e tomaram as cadeiras da Mesa Diretora. O bando era liderado pela atual presidente do PT Gleisi Hoffmann (ré por corrupção).
Ele era formado pelas senadoras Lídice da Mata (PSB-BA), Kátia Abreu (PMDB), Vanessa Grazziotin (PCdoB) e as petistas Fátima Bezerra e Regina Sousa. Houve outras invasões, tentativas e arruaças promovidas pelo PT e seus braços "sociais" e seria improdutivo ficar citando todas.
O ponto é que o PT passou décadas pregando os protestos violentos, as ocupações, as invasões, o confronto físico ao invés do de ideias. O próprio Lula sempre usou o discurso do ódio, da guerra entre classes, do "nós contra eles", do "pobre contra as 'zelite'", do PT contra "os burgueses", "o imperialismo", etc.
Sob a omissão dos governos de Lula e Dilma, o MST passou a ser um grupo armado e criou células secundárias, como o MLST, o MTST, a Via Campesina e muitas outras, todas sem existência legal, mas recebendo verbas do governo federal através de laranjas.
Hoje, o governador Rui Costa que, assim como Wagner, sempre foi mais ponderado e equilibrado que a manada petista ou o chefe do rebanho, sofre na pele a violência que seu partido criou na sociedade. Wagner e Rui, que já sofreram protestos violentos, pagam pelos pecados do PT.
E por sua omissão nos anos em que isso foi crescendo.
Rui, como pessoa, tem moral para condenar a violência dos protestos e a invasão da Alba. Mas como petista é tão culpado quanto Lula e José Dirceu, que implantaram o que reza a cartilha de dominação comunista do italiano Antonio Gramsci.
Ele e Wagner viram tudo sendo feito mas se calaram e permitiram.
Omissão também é crime.