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26/08/19

Queimando nosso filme lá fora

As queimadas na Amazônia não chegam perto da fogueira de vaidades e oportunismo de quem trata o assunto como se fosse um evento único na história, como se só neste ano o fogo tivesse queimado a floresta. Queimadas acontecem na área desde a época dos dinossauros.

Mas tem gente que faz questão de queimar nosso filme no exterior, não importa se usando fotos e dados falsos. O importante, para esta parcela imoral do país, é tocar fogo na imagem de Bolsonaro, mesmo que no processo o país inteiro pague com a perda de exportações e receita.

Artistas e famosos fizeram postagens oportunistas usando uma foto da década de 90, como Leonardo Di Caprio, Gisele Bündchen e o presidente da França, Macron. Outros postaram fotos de bichos queimados em outros estados e até na California (EUA) como se fossem da queimada atual na Amazônia.

Uma militante idiota postou uma foto pintada com cenas da "amazônia" onde aparecem girafas... Outros famosos postaram vídeo de uma índia chorando e apontando o fogo na floresta amazônica. O detalhe é que este incêndio foi em Minas Gerais, há anos. Já a foto no post de Cristiano Ronaldo é de um fogo no RS, de 2013.

A ex-ministra do Meio Ambiente de Lula, de 2003 a 2008, Marina Silva, talvez seja a mais sonsa a se aproveitar das queimadas para criticar Jair Bolsonaro. Em 2004, por exemplo, houve 270.295 focos de incêndio na Amazônia; no ano seguinte 240.707 e em 2007, 231.211, tudo durante sua "gestão" do Meio Ambiente.

Nos dois governos de FHC, a média de focos girava em torno de 130 mil. Disparou para média de 230 mil nos governos de Lula e se manteve neste patamar nos de Dilma Rousseff, chegando ao recorde de 270.479 em 2017, durante a gestão de Michel Temer.

Apesar do bom desempenho sob FHC, nenhum deles é culpado pelas queimadas. Até porque, com cada ano batendo o recorde de temperatura do anterior, como vem acontecendo nesta década, a tendência é de que os incêncios espontâneos, seja no Brasil, na California ou em Portugal, aumentem sempre.

Porém os números mostram como o assunto é distorcido e aproveitado por espertalhões da política nacional e mundial. Há décadas a Amazônia é cobiçada por outros países, que ocuparam boa parte dela com ONGs.

Existem áreas da nossa Amazônia onde ninguém fala português, porque o domínio das ONGs internacionais tornou o inglès e o francês as línguas oficiais. São ONGs que retiram plantas e extratos nativos para pesquisas médicas e aromáticas, que depois resultam em remédios e perfumes que vendem caro para nós.

As queimadas já estavam acontecendo há semanas, mas só quando Bolsonaro cortou as verbas para estas ONGs elas passaram a "denunciar" que a Amazônia "estava em chamas". Daí foram se agregando políticos, famosos, midia de esquerda e opositores do governo.

Autoridades de vários países aproveitam o fogo para cozinhar seus interessa particulares, como a Finlândia pedindo para a Europa banir a carne do Brasil (que incomoda seus criadores); ou a Irlanda ameaçando não assinar o tratado da Europa com o Mercosul (que já tinha rejeitado em julho) "por causa das queimadas".

A mesma desculpa foi usada pela França, onde os produtores rurais pressionam o governo a não assinar o acordo porque temem perder importância com as importações de alimentos do Brasil. E pela Alemanha, que não engoliu o corte de verbas para ONGs alemãs e a não submissão do Brasil ao que ela quer.

Ainda existe o movimento da esquerda (brasileira e europeia), tentando desgastar Bolsonaro porque quer um governo como o de Lula e Dilma de volta. Jornais europeus que sempre tiveram viés de esquerda, como The Guardian, El País e Le Monde, aproveitaram para bater em Bolsonaro.

A impressão, lendo as matérias, é que a Amazônia está sofrendo seu primeiro incêndio na história. Na época de Lula e Dilma, por exemplo, quando houve recorde de desmatamento e de queimadas, nenhum desses jornais comentou ou criticou o governo.

O satélite da Nasa mostrou, em tempo real, que os focos de queimadas estão tanto na Amazônia brasileira quanto na Boliviana, mas para os jornais o incêndio é só nosso. Dados de entidades internacionais mostram que 94% da Amazônia brasileira está conservada, exatamente como há 100 anos. São ignorados também.

As queimadas aparecem todo ano, por causa do período que combina clima muito seco com calor extremo. O fogo começa sozinho, como acontece com os incêndios que assolam a California (EUA) e Portugal todos os anos, independente de quem é o presidente. Fogo não vota nem tem ideologia.

Dizer que as queimadas naturais desta época são culpa de um presidente, seja ele Lula, Dilma ou Bolsonaro, é tão idiota quando dizer que a ausência das queimadas no resto do ano é mérito deste mesmo presidente. No meio de tanta besteira, acabam não discutindo o que fazer com a Amazônia.

A esquerda quer ela explorada apenas pelos índios e pelas ONGs. O centro e a direita querem um misto de preservação e utilidade. A ideia mais comum é preservar grandes áreas intocadas e aproveitar outras nem tanto para a agricultura, pecuária e extração mineral. Com equilíbrio dá para ter as duas coisas.

Incendiando a razão e incinerando a verdade, não.

Posted by at 10:47 PM
Edited on: 26/08/19 10:54 PM
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23/08/19

Qual é sua escravidão?

Quando a gente fala em escravidão, a referência é a dos negros africanos, vendidos por negros africanos de outras tribos a traficantes brancos e jogados nas Américas. Mas esta não é a única forma de escravidão. Existem outras, sutis.

Por exemplo, qual é o seu nível de escravidão digital?

O smartphone, a internet e as redes sociais são invenções maravilhosas, que facilitam e melhoram nossa vida. Mas tem gente que se torna escrava delas. A pessoa dorme com o celular ligado na cabeceira da cama.

Acorda várias vezes durante a noite para checar suas mensagens. Não são mensagens urgentes. São mensagens banais e inúteis de desconhecidos ou de amigos, postadas no WhatsApp, no Instagram, no Facebook, no Twitter. Poderiam ser lidas sem problema de manhã. Quando está com amigos ou a família, fica com a cara no celular ao invés de interagir com eles.

É escrava da tecnologia.

Ao contrário do que falam, dinheiro traz felicidade sim, mas pode virar uma prisão se a pessoa perder a noção do que é importante ou não. Voce, eu e a maioria das pessoas nunca saberemos como é isso. Mas muita gente que conquistou riqueza de verdade, daquela que te dá liberdade, na verdade acaba escrava.

Ao invés de viajar, fazer passeios, ver shows e peças, curtir noites com amigos, deixar a casa confortável, investir em cultura, conhecimento e prazer, se torna paranoica em manter cada centavo e fazer cada vez mais dinheiro. Tem medo de ser roubada, desconfia dos amigos. Não aproveita a vida, dorme mal, se preocupa o tempo todo, passa o dia checando a bolsa.

É escravo do dinheiro.

Trabalhar é bom e, se for no que voce gosta, dá prazer, satisfação, realização. Mas tem gente que trabalha mais do que precisa, acha que se parar meia hora é um vagabundo ou as tarefas vão se acumular.

Está sempre vendo coisas de trabalho no fim de semana. Nunca "tem tempo" para nada. Quando viaja de férias fica ligado no que deveria estar fazendo no escritório.

É escravo do trabalho.

Ter ideias faz parte do ser humano, ter opinião tembém. Mas tem gente que não só rejeita qualquer coisa que seja diferente do que pensa como combate como se fosse praga. Mesmo quando o argumento faz sentido, ataca quem o formulou. Mesmo diante de provas contrárias, mantém o discurso, robótico.

É escravo de ideias.

Ele acorda sempre às 7h, toma café em até 20 minutos, chega no trabalho às 8h30 mesmo sendo o dono. Almoça sempre das 12h às 13h30, janta sempre às 19h, dorme sempre às 22h. Nunca faz nada fora do que agendou. Nunca tira uns minutos para relaxar ou não fazer nada.

É escravo do tempo.

Ela apanha do marido quase todo dia. No dia seguinte ele pede desculpas, chora, promete que nunca mais vai repetir a agressão. Até a próxima, quando o ciclo se repete. Ele passa os anos fazendo de tudo para agradar a mulher, mas é sempre ignorado por ela.

São escravos do amor de mão única.

O cara odeia todos os negros, os brancos, os asiáticos, os judeus, os árabes, os gays, os héteros, os machistas, as feministas, os imigrantes, os ricos, os pobres, os que tem cultura, os ignorantes. Para ele são todos ruins, sem exceção. Nunca faz amigos deste tipo e se afasta dos próprios que fazem isso.

É escravo do ódio.

Ela gasta a maior parte do dia se maquiando, escolhendo as roupas, fazendo o cabelo, malhando na academia. Faz dezenas de plásticas, usa botox, precisa de uma hora antes de dormir só para passar uma montanha de cremes. Só come coisa "saudável", mesmo com gosto horrível. Não come uma pizza, uma torta, porque "precisa manter a linha".

Se desespera e entra em depressão ao surgir uma ruga, um cabelo branco, uma espinha. Acha que não pode repetir um vestido ou um sapato. Tem vergonha de ser vista em roupas comuns. Passa fome ou come e vomita para se manter magra e acaba com cara de doente.

É escrava da imagem de beleza imposta pela sociedade.

Tudo o que temos pode ser usado para nos dar prazer e felicidade. Cabe a voce separar o que é importante de verdade, o que leva a este caminho. Se cuidar, ser pontual, usar toda a tecnologia, ter ideias, trabalhar, ter dinheiro é muito bom se for na medida certa. Então...

Qual seu nível de escravidão?

Posted by at 10:52 AM
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09/08/19

Ter pai, ser pai

Nesta época é inevitável focar nele, mesmo pensando em meu pai, Manoel Leal, o ano inteiro. O Dia dos Pais sempre é um desafio para os filhos. Quando perguntava a ele o que queria de presente, respondia "qualquer coisa" ou "nada" e eu ficava louco.

Com o resto da família espalhado, éramos apenas ele e eu em Itabuna. Por isso eu queria ainda mais achar um bom presente no Dia dos Pais. Não era fácil encontrar uma coisa que fosse agradar e entusiasmar meu pai. Quase todos os presentes que dei foram deixados de lado no dia seguinte.

Raros foram realmente usados por ele e só um fez sucesso, um chapéu típico de Sherlock Holmes que trouxe de Londres. Só depois, quando virei pai de Kira, fui entender. Para nós, pais, nada pode superar o presente de ter uma filha, um filho. Por isso os presentes são irrelevantes.

O importante é a entrega, o beijo, o abraço. Para nós, tanto faz o que está dentro da caixa.

Se antes eu ficava louco tentando descobrir o que dar para meu pai, hoje deixo Kira louca respondendo sempre a mesma coisa quando ela pergunta o que eu quero: "uma camiseta preta ou azul marinho, lisa".

No caso de meu pai, não adiantava analisar o que ele gostava. O prazer dele era fazer o jornal A Região e bater papo com os amigos, fosse no café da parte baixa da Praça Adami, no Baby Beef ou na cabana do Guga, um grande amigo dele, na praia. O resto não importava muito.

Tenho estes dois prazeres em comum com ele, mas muitos outros, como música, rádio, livros, séries e filmes, videogames e viagens. Seu pai com certeza tem vários interesses também, mas desista de achar o presente ideal. Isso ele já tem: voce.

Outra diferença que tenho em relação a meu pai é o nível de "chameguice". Ele foi criado por um pai que nunca demonstrava afeto ou carinho porque, por sua vez, foi criado assim também. Então, o meu não vivia me abraçando, mas eu sempre senti seu amor por mim.

Um amor reforçado pelos comentários dos amigos dele. Me diziam sempre que meu pai, quanto eu não estava por perto, vivia falando de mim cheio de orgulho. Eu sou muito parecido com ele, mas não nisso. Adoro beijar e abraçar minha filha, ficar agarrado batendo papo.

Meu pai teve o primeiro filho com 30 anos, eu com 42. Achava que nunca saberia criar filhos, que não saberia ser um bom pai. No fim, descobri que foi a melhor coisa de toda a minha vida (e minha vida foi plena de coisas boas) e que ser pai não é tão difícil.

Hoje acho que todos os alertas que me davam eram trolagem dos amigos. Pintavam mil dificuldades em lidar com um bebê. Não tive nenhuma. "Mas quando comçar a andar..." Kira começou a andar e não vi nada de problema. Depois era "quando estiver na escola", "quando virar adolescente", etc.

Vai ver que eu sou uma exceção, que dei sorte. Mas realmente só tive momentos felizes sendo pai, sem nenhum problema. Até achava que a diferença de idade podia ser ruim, mas descobri que minha cabeça é bem mais jovem e que é possível gostar das mesmas coisas.

Graças a ser pai descobri atrações na tv que nunca imaginei, como Backyardigans, Dora Aventureira, As Pistas de Blu, Padrinhos Mágicos, Bob Esponja, Drake e Josh, Sam & Cat, Hanna Montana, iCarly, Zoey 101, Big Time Rush, Kenan & Kell, Lazy Town, Feiticeiros de Waverly Place, Boa Sorte Charlie e, minha favorita, Phineas & Ferb.

Sinto todo dia como Dia dos Pais, de verdade. Um privilégio.

Posted by at 9:50 PM
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De jangadeiros e vida

Uma palavra que sempre me vem à cabeça nestes tempos difíceis, depois de 4 anos de uma recessão brutal, a maior da nossa história, é "resiliente". Para a psicologia, ser resiliente é conseguir dar a volta por cima, lidando e superando adversidades e transformando experiências negativas em aprendizado.

Para o dicionário, é a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas (choque, estresse, algum tipo de evento traumático) sem entrar em surto psicológico, emocional ou físico.

Mas o conceito de resiliente que sempre me vem à cabeça é o da primeira vez em que a palavra chamou minha atenção. Foi em um vídeo antigo sobre os jangadeiros de Alagoas. O documentário narrava que eles saíam de manhã cedo sem saber se conseguiriam pescar alguma coisa ou mesmo voltar para casa.

"O jangadeiro é, antes de tudo, resiliente", dizia a narradora com forte sotaque nordestino. A voz, a imagem da jangada em alto mar e o conceito ficaram gravados na minha mente. Eu já era resiliente em minha postura, mas não entendia que era. Soube ali.

Outra palavra que me vem à mente neste período em que as piores consequências da recessão desaguaram, apesar de já estarmos em uma tragetória de recuperação, é "estóico". Significa resignação diante de alguma situação trágica ou um grande sofrimento.

A diferença entre elas é que o estóico muitas vezes se acomoda e fica onde está, enquanto o resiliente aceita a realidade, a enfrenta com calma, mas busca saídas. Estas duas palavras resumem o que precisamos hoje, com ênfase na resiliência, em não perder a calma, a harmonia, a paz pessoal.

Pelo menos é assim que eu enfrento o que tem sido os anos mais difícieis de minha vida, não pela falta de dinheiro e queda da qualidade de vida em si, mas pelos problemas sociais que isto causa e pelo medo de fracassar em dar conforto a minha esposa e filha.

Eu não tenho direito de reclamar, porque minha vida inteira, antes de 2015, foi um festival de sorte, sucesso, realização e felicidade. Estes anos difíceis são apenas 6,7% da minha vida. Por isto vou passando com estoicismo e resiliência, sem deixar que eles afetem meus prazeres, meu sono, meu humor.

Não desconto os problemas em ninguém, não fico me lamentando, não perco o sono, não deixo de curtir música, filmes, livros, games. Não me isolo. Não perco o sorriso. Não deixo de fazer piadas. Não perco a vontade de fazer nada. Me adapto às perdas e procuro caminhos. Aceito as restrições enquanto busco soluções.

Sem resiliência, a pessoa não consegue passar por um período como este. Eu sei que a economia, meu negócio, meu rendimento, minha vida, vão melhorar. Sei que as dificuldades ficarão para trás. Por isso tenho paciência, mantenho a calma.

Sou resiliente e atravesso as dificuldades como um jangadeiro que sai para pescar. A diferença é que eu sei que mais à frente pegarei muitos peixes e voltarei para casa. Mas a resiliência não é só nordestina. Quando morei em Londres fiquei fã de outro conceito, criado durante a Segunda Guerra Mundial.

Os ingleses eram bombardeados pelos alemães o dia inteiro, a noite inteira. Ninguém dormia com o som das bombas e dos V2, primeiros mísseis da história. A comida era racionada e faltava de tudo, até pão e água. A capital da Inglaterra estava em ruínas.

No meio de tudo isso o governo criou cartazes inspirados na resiliência da Rainha Elizabeth, que se recusou a deixar Londres e ir para o interior. onde ficaria segura: "Keep Calm and Carry On". Ou "fique calmo e siga em frente".

Posted by at 9:48 PM
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