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22/05/19
A comida requentada de Tite
No Mesa Pra 2 (Morena FM, quartas, 15h) desta semana comentei com Mary Barros que Tite ia insistir em chamar Felipe Luiz, Fagner, Miranda e Thiago Silva, que não servem para a próxima Copa. Não deu outra. Chamou mesmo, mas já foi um avanço não convocar Renato Augusto e Paulinho...
Tite acertou em chamar Marcelo e Dani Alves, mas pelo motivo errado. Vai usá-los como laterais, função que já não cumprem bem por causa da idade. Os dois não têm fôlego para correr todo o lado do campo, deixando Casemiro se virando para proteger as bolas nas costas.
Todas as seleções sabem dessa deficiência e usam, como a Bélgica usou, lançando dezenas de bolas nas costas do Marcelo sem Casemiro em campo para proteger a defesa. O resultdo voce conhece. Sem Casemiro, não era uma partida para Marcelo e sim para Felipe Luiz.
Voltando a Dani e Marcelo. Nos clubes, eles não são mais usados como laterais e sim como meias, ligando a defesa com o ataque sem a preocupação de defender. O resultado tem sido excelente no Real Madrid e no PSG, onde os dois vem dando show na nova função.
Claro, Tite não abre mão de seu velho esquema 433 nem de usar os caras como laterais. Além desta deficiência da seleção, os times conhecem outra que vão explorar: Tite sempre escala Neymar pela esquerda e, com isso, o time fica manco, jogando só por este lado.
A solução é parecida com a que o PSG faz às vezes, colocando Neymar como meia atacante, comandando o ataque. O adversário nunca sabe se ele vai partir para driblar a defesa, passar para o atacante da esquerda, para o da direita ou fazer pivô para um jogador vindo de trás para chutar.
Fica imprevisível. Mas parece que Tite tem alergia a isso, prefere a previsibilidadae que deixa a seleção vulnerável. Não me entenda mal. Eu gosto do Tite, respeito muito, elogio por ter dado ao time uma maneira de jogar consistente, depois de anos sem formatação. Mas ele precisa variar.
Guardiola e Klopp, para ficar em dois, têm sua maneira padrão de jogar, conhecida por todos. Mas ambos mudam isso várias vezes durante a partida e surpreendem os adversários. É comum, durante as partidas, a formação mudar para 3133, 3232, 3241, 4123, 4141, até 424. Tite não muda.
A diferença entre os convocados por ele e por mim não está só na idade e sim na função. Como prefiro um time sem laterais, com 3 zagueiros, num 3232, não chamaria Alex Sandro apesar de ser fã dele. Montaria o time com Alisson e Ederson de reserva. Não chamaria terceiro goleiro, não faz sentido.
A defesa seria jovem, visando a Copa, com Diego Carlos, Marcelo e Marquinhos (Jemerson, David Luiz, Felipe); depois Casemiro (Fabinho), Marcelo e Daniel Alves (como meias, tendo Allan e Arthur na reserva); Neymar (Oscar), Douglas Costa e William (Richarlison e Coutinho); Firmino e Hulk na frente, com Gabriel Jesus na reserva dos dois.
Na defesa inclui David Luiz como reserva, apesar da idade, pela capacidade de lançamentos longos e certeiros que, a depender de como o adversário está jogando, pode ser uma ótima opção. Já mostrou isso em jogos do Chelsea contra times que jogavam no contra ataque deixando espaços atrás.
Minha lista e a do Tite têm em comum Marquinhos, Casemiro, Arthur, Allan, Coutinho, Neymar, Firmino, Gabriel Jesus, Richarlison, Marcelo e Dani Alves. Mas eu chamaria Hulk no lugar do Everton, Oscar no de Paquetá, Wiliam no de David Neres (mas ele também é ótimo), Fabinho no de Fernandinho, além da defesa nova.
Para mim, ganhar a Copa América é irrelevante. Nunca fomos muito fortes nela. O último título foi em 2007. O ideal seria usar a competição para criar entrosamento entre os jovens que devem disputar a Copa, testar estratégias e jogadas, conhecer os pontos fracos para corrigir até 2022. Sete dos principais chamados por ele não vão à Copa, incluindo a defesa toda.
Eu espero que Tite prove que eu estou errado e sua convocação é a certa. Porém, mesmo assim, ele terá que montar uma seleção completamente diferente para a Copa, começando quase do zero, sem entrosamento dos jogdores.
Como as datas Fifa são poucas, a preparação será prejudicada e insuficiente. Em especial para ter uma defesa toda nova jogando de forma harmoniosa, se entendendo em campo "por telepatia". Tite corre o risco de repetir João Saldanha em 1970.