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31/05/19

Cidades sem defesa

Fazer jornal no interior da Bahia nunca foi bom negócio. Poucos até ganharam algum dinheiro vendendo sua ética, sua publicação, sua alma para os prefeitos corruptos. Receberam para contar mentiras e defender os patrões de denúncias. Muitas vezes seus empregados estavam na folha da Prefeitura.

Os raros jornais que não se vendem sempre foram feitos por teimosia, por acreditar na missão de defender a sociedade dos corruptos, por querer uma cidade melhor para se viver. Estes sempre tiveram muita dificuldade em pagar as despesas e o pessoal, mesmo vendendo muito nas bancas.

A explicação é simples. Voce paga R$ 2 na banca por um jornal que custa R$ 15 para ser escrito, montado, impresso e distribuído. A diferença, em cidades maiores, onde os anunciantes e agências são mais esclarecidos, é bancado pela publicidade. Sem ela, a venda em banca não "banca" nada.

Porém, mesmo em cidades com empresas que anunciam em jornais, a recessão causada pelo desgoverno de Dilma Rousseff (PT), a partir de 2014, fez a maior parte delas perder vendas e clientes. Com isso, tiveram que cortar toda publicidade nos jornais, que entraram em crise.

A facilidade de pegar notícias pela internet, de graça, também contribuiu para a crise, mas nem tanto. As vendas de jornais independentes e sérios na forma impressa ainda tem muita demanda, como acontece com A Região no sul da Bahia, onde vende todos exemplares que coloca nas bancas.

A falta de publicidade é a verdadeira causa da morte de jornais, incluindo alguns de longa data, como o Tabu, de Canavieiras, que sobreviveu por 50 anos mas sucumbiu à grave recessão e hoje é apenas online. Ou jornais centenários que conseguiram passar por todas as crises do país, mas não aguentaram Dilma.

O jornal Comércio do Jahu, por exemplo, tinha 101 anos. Único jornal ainda circulando em Jaú (SP), cidade de 119 mil habitantes, ele fechou nesta semana (impresso e online). O dono, Raul Bauab, explica: "jornalismo sério e responsável custa caro. Aqui, pelo menos, as pessoas não querem pagar por esse serviço".

Em Itabuna é igual. Todos querem um jornal, rádio, tv que os defenda, que informe com precisão, desde que seja... de graça. Como se o trabalho de buscar e checar a informação, ir aos lugares, ouvir as pessoas, escrever bem e imprimir não custasse um único centavo.

A editora do Comércio do Jahu, Ana Karina, completa: "hoje, muitas pessoas não querem pagar pela informação de qualidade, que segue os princípios éticos. Acreditam, infelizmente, que postagens nas redes sociais bastam para que fiquem informados". E este é o maior problema. As postagens não informam, deformam.

Sem jornais, as notícias falsas tomam conta de uma cidade. Jornais se dedicam a checar os fatos, questionar dados, pesquisar, analisar a fundo o que está acontecendo. A prioridade é dar a notícia sem erros. Na midia social e nos blogs a prioridade é a rapidez, dar a notícia imediatamente.

Blogs e contas de rede social não têm recursos para apurar uma notícia. Muitos não tem a formação necessária para analisar fatos e compreender dados. Outros não conseguem resposta de autoridades apenas porque são blogs e não veículos tradicionais.

Mesmo com rádios que tenham jornalismo próprio e sério, como a Morena FM, não é a mesma coisa, porque o jornal pode ser lido com calma, o que facilita o entendimento.

O jornal também pode ser guardado, relido para tirar uma dúvida. É perene, enquanto o noticiário do rádio é poderoso, mas precisa ser entendido de imediato e não pode ser "reouvido" se tiver dúvida.

Por isso, uma cidade sem jornal é uma cidade vulnerável, sem defesas contra prefeitos e vereadores corruptos, que vão enriquecer usando o dinheiro que o cidadão entregou na forma de impostos.

É uma cidade exposta a golpes e fraudes, porque não foram denunciadas no jornal. É uma cidade indefesa.

Corruptos antigos tinham como prática matar o jornalista para calar o jornal (leia sobre a morte de meu pai, Manoel Leal, nesta edição). Hoje eles não precisam. A recessão do PT está calando um por um.

Posted by at 11:25 PM
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