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03/05/19

Liberdade? Que liberdade?

O 3 de Maio foi o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, mas que liberdade é esta? Para mim, a liberdade de investigar, apurar, questionar autoridades e dados, divulgar tudo o que encontrou e opinar sobre o resultado sem ser patrulhado pela esquerda ou direita, sem ser censurado pelo STF, sem ser assassinado.

Liberdade de imprensa só existe se for plena e é imprescindível para a democracia. Todos os países democráticos têm previsão para o sigilo da fonte, por exemplo, mas ele nem sempre é compreendido. Não se trata de uma fonte anônima. O jornalista conhece a pessoa, a investigou e resolveu acreditar nela.

O jornal não revela o nome para que ela não seja perseguida e até morta. Aliás, no Brasil é perigoso até assinar uma reportagem, coisa normal no exterior. Vários jornalistas foram mortos porque a matéria com a denúncia tinha seus nomes como autores.

Na década de 90 nada menos que 10 jornalistas foram mortos na Bahia, sem que nenhum caso tenha sido efetivamente investigado, até porque os suspeitos eram aliados de quem mandava na polícia. O 10º foi meu pai, Manoel Leal, num caso que só foi investigado porque contei com o apoio da imprensa e entidades mundiais.

Mesmo assim, os mandantes nunca foram investigados, nem mesmo sendo óbvios. Matar meu pai foi a maneira que encontraram de calar o jornal, mas não deu certo. A equipe continuou resistindo e denunciando. Por isso, partiram para outro tipo de atentado, o jurídico.

Ao longo dos anos, o jornal A Região foi seguidamente processado com pedidos de danos morais feitos por gente sem moral alguma. A justiça local nunca deu ganho de causa a eles, preservando o papel fundamental da imprensa. Mas o mesmo não se aplica a nível nacional.

O corrupto condenado José Dirceu conseguiu vencer um processo, julgado em tempo recorde e sem respeitar o foro legal, porque não gostou de dois parágrafos do texto que o citavam. O texto de opinião, que por isso é protegido pela Constituição (ou deveria ser), comentava a investigação sobre a morte de Celso Daniel.

O prefeito de Santo André, segundo o Ministério Público de São Paulo confirmou em investigação, ia denunciar um esquema de propinas cobradas das empresas de ônibus da cidade, cujo dinheiro era entrregue à direção nacional do PT. Foi morto antes de denunciar. Todas as testemunhas foram mortas nos anos seguintes.

Minha liberdade de impresa foi amassada, rasgada e jogada no lixo junto com outra liberdade que a Constituição protege, a de opinião. A Justiça da época me negou as duas. Por isso, não é porque no Brasil temos uma relativa liberdade (desde que não incomode quem tem poder) que podemos comemorar o 3 de maio.

Liberdade de imprensa e de opinião, por aqui, são ainda um sonho distante.

Posted by at 11:41 PM
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