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02/12/19
O emprego formal precisa morrer
Vejo muito debate sobre os empregos gerados no Brasil e a principal crítica é que boa parte é "sem carteira assinada". Tenho novidades. O emprego com carteira está com os dias contados. Não porque vão sumir, mas porque a sociedade está mudando rapidamente e este sistema não se encaixa na nova realidade.
Hoje é possível trabalhar, literalmente, a partir de qualquer lugar do planeta, usando a tecnologia. Boa parte das funções podem ser cumpridas de longe. Seu contador, por exemplo, pode morar em Bali, na Indonésia, e ainda assim manter a documentação de sua empresa em dia.
Vendedores que iam de porta em porta passaram a fechar a maior parte das vendas através do WhatsApp. Também virou desnecessário ter um cobrador. O cliente pode pagar via PagSeguro, PayPal ou site do banco. A pessoa que emitiu o boleto não precisou estar no escritório. Pode ter feito de casa.
A noção de que é preciso ter uma carteira, 13º e férias de 30 dias, assim como pagar parte de seu salário para o governo investir na sua aposentadoria, está sendo deixada de lado por muita gente, de propósito, em troca da liberdade de folgar em épocas e duração diferentes, de usar todo o salário para si.
O Uber é um bom exemplo de emprego fora do padrão antigo. Não existe trabalho formal, gerente, escritório, descontos nem rigidez de férias. O motorista pode tirar folga quando quiser, pelo tempo que quiser e paga apenas uma taxa para manter o sistema do aplicativo.
O que a mídia ainda chama de "mercado informal" eu chamo de futuro. Daqui a alguns anos ter uma carteira assinada será uma curiosidade que os mais jovens dificilmente vão entender para que servia. Como a fita cassettte, o vídeo VHS, o fax, o telex... para que servia mesmo?
A geração atual já está optando por empregos sem formalidade, porém com liberdade. Um dos gols do governo Bolsonaro foi desburocratizar o emprego dos jovens, mas ainda mantém amarras burocráticas. A nova geração de empregados vai caminhar rumo à informalidade.
O mais próximo disso é o sistema dos EUA, onde voce contrata alguém por quandos dias precisa, só quando precisa, pagando só o que foi trabalhado. Não existe a excrescência do 13º, criação do ditador Getúlio Vargas, responsável pelo modelo paternalista de empregos que atrasa nosso progresso desde os anos 30.
Também não existe o "terço a mais" nas férias, que sempre têm que ser de 30 dias. Lá, empresa e contratrado combinam quantos dias de férias serão e não existe "terço a mais", até por ser ilógico voce receber mais justamente no mês em que não produz nada. Ou receber por um mês que não trabalhou (13º).
Quando termina o contrato, se paga o trabalhado e mais nada. Não existe multa por demitir, o que é uma interferência nociva na vida das empresas. Voce também pode recontratar a pessoa no dia seguinte. Não tem que esperar um ano para não ser acusado de fraude.
Já trabalhei como freelance de fotografia e publicidade, livre. Também fui empregado por muitos anos em uma agência e na época já não via sentido algum no 13º, no terço de férias e nos 30 dias. Negociava para tirar três períodos de 10 dias ou dois de 15. Claro que gostava do dinheiro extra, mas não entendia a lógica e preferia ficar com o dinheiro do desconto do INSS.
Depois me tornei empresário e este estranhamento ganhou corpo quando conheci os efeitos na empresa. Hoje, mesmo que não tivesse ocorrido a recessão de 4 anos gerada pelo PTCC, eu tenho receio em empregar alguém, porque sei do alto custo para demitir caso não dê certo e do alto custo mensal caso dê.
Metade do que é gasto com um empregado não vai para ele e sim para manter este sistema ilógico de empregos. Se o emprego fosse livre desta camisa de força, ele explodiria, com melhores salários para quem é contratado e mais dinheiro para a empresa investir.
Eu sei que vai ter uma multidão me xingando, dizendo que eu quero "acabar com os direitos do trabalhador", mas o Brasil só terá pleno emprego quando ele se livrar dessas imposições. Quando empresas e empregados forem livres para combinar o que quiserem, quando quiserem, como quiserem.
É preciso acabar com as cordas que amarram nossa economia.
Liberdade, mesmo que tardia.