« Suzy e a inversão dos valores | Main | As oportunidades do coronavirus »

14/03/20

Pânico em copo d'água

O mundo tem gripes provavelmente desde a pré-história, mas de uns tempos para cá se criou a gripe da moda. Já tivermos a aviária, H1N1 e influenza, entre outras. Todas ameaçavam acabar com a humanidade, espalhando mortes pelo mundo inteiro. Nenhuma chegou perto disso. Hoje é o coronavirus.

Aliás, o "novo" coronavirus, porque já tivemos um como gripe da moda antes. Todas estas ameaças têm em comum o fato de ser apenas mais uma gripe. Sim, igual à que voce tinha quando ainda ia para a escola com lancheira de superheroi.

O novo coronavirus se move como a gripe de sempre, por contato com tosse, espirro, catarro que as pessoas espalham por aí ou objetos atingidos por eles. As pessoas mal educadas, porque as educadas usam um lenço, abaixam a cabeça para espirrar, cobrem a boca para tossir.

As manchetes destacam a quantidade de mortes, que parecem muitas mas não são. Um exemplo simples. A gripe comum, aquela sem direito a holofotes, mata cerca de 2.000 pessoas por dia no mundo. Sim, todo dia. Já a da moda tem média de 56 mortes por dia.

Praticamente todas as outras doenças atuais matam mais que o novo coronavirus. Faz mais sentido se preocupar com dengue, zika, chikungunya, sarampo, malária, catapora, pneumonia, Aids, sífilis... A tuberculose mata 1,5 milhão de pessoas por ano.

As hepatites B e C enterram 1,3 milhão de corpos anualmente. A Aids, 770 mil por ano. A gripe comum, que não dá manchetes, mata 650 mil. A malária é responsável por 405 mil funerais por ano. A meningite 170 mil. A cólera, 143 mil. A raiva, 59 mil. A febre amarela, 30 mil. A dengue, 25 mil.

O novo coronavirus matou cerca de 5 mil até aqui e já está acabando na China, onde começou e foi responsável por metade destes casos. A diferença que assusta os governos é a velocidade com que se espalha, bem mais rápido que as outras doenças.

Mesmo assim, é um completo exagero bloquear fronteiras, suspender todos os eventos, fechar bares, restaurantes, lojas, supermercados, escolas; esvaziar cidades. Principalmente em lugares que não têm um caso sequer de pessoa infectada, como Itabuna e tantas outras cidades do interior.

Se o número de casos explodir num lugar, por exemplo, o que voce vai ter é muita gente gripada, nada mais grave que isso. As que vão precisar ser internadas não serão mais que 3,5%, como foi até na China. As que vão ter problemas mais graves e morrer são cerca de 2%. Tudo muito menor que nas outras doenças.

O maior problema, além de travar a economia e a sobrevivência econômica das cidades, é que vão gastar uma enormeidade de dinheiro numa doença de baixa letalidade. Um dinheiro que nunca foi pensado para as doenças que matam muito mais e com frequência maior.

Quando a crise começou na China, escrevi aqui em A Região que o maior prejuízo desta gripe não seria na área de saúde, mas na economia. Já dava para ver, na época, a maneira apocaliptica com que os governos tratariam o coronavirus. Exceção aqui ao magnífico exemplo da rainha da Inglaterra, Elizabeth II.

Apesar de orientada a não tocar em nenhum visitante, ela estende e dá um longo aperto de mãos em todos os visitantes que recebe. Elizabeth faz parte do público de risco do coronavirus, mas mantém uma filosofia que vem desde a juventude, de se recusar a deixar fatores externos definir sua vida.

Não diga que é porque ela está "no tempo extra", porque já era assim quando nova. Em 1944, quando os nazistas bomardeavam Londres dia e noite, insistiram em levá-la para o interior, onde estaria protegida. A resposta foi de que Londres era sua casa e ninguém a expulsaria de lá.

Elizabeth seguia e ainda segue o slogan da campanha da segunda guerra, "keep calm and carry on" (fique calmo e siga em frente"). Ela dá o exmplo que falta aos outros governantes diante do coronavirus. O de manter a calma e a rotina diante de uma ameaça, sem histeria.

Deus salve a Rainha.

Posted by at 12:02 PM
Categories: