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08/05/20

Salvar o Yin sem salvar o Yang

Feche os olhos (depois de ler este parágrafo, claro). Imagine sua cidade sem bares, restaurantes, lanchonetes, farmácias, supermercados, lojas, sinal de celular, acesso á internet, rádio, televisão, feiras, frigoríficos, postos de combustível, escolas, clínicas, hospitais, forncedor de água, coleta de lixo. Dá para viver nela?

A discussão entre "salvar vidas" e "salvar empresas" é uma idiotice. Me lembra o radicalismo verde de exigir que nenhuma folha seja mexida e que tudo fique intocado, mesmo que falte comida para as pessoas. Um colunista imbecil do UOL, por exemplo, postou "Elite vai ao STF mais preocupada com morte de CNPJs do que de CPFs".

O colunista usou, para postar, um PC feito por um CNPJ, a energia elétrica e a internet fornecidas por um CNPJ, em cima de uma mesa vendida por um CNPJ, num apartamento construído por um CNPJ, enquanto comia um lanche com alimentos plantados e vendidos por um CNPJ. Mais tarde vai limpar o cérebro com papel higiênico vendido por um CNPJ.

De onde ele pensa que vem a comida, o papel higiênico, a pasta de dente, os remédios? Será que imagina que brotam do chão? Ele se soma a uma multidão de esquerdistas sedentos apenas de odiar o presidente, eleito pelos brasileiros para executar seu projeto de governo - não o da esquerda.

A ideia por trás da idiotice é a seguinte. O governo deve trabalhar somente para salvar pessoas durante a epidemia, ignorando todas as outras coisas que, por sinal, fazem parte de sua obrigação. Não querem que cuide da economia porque sabem que um país quebrado facilita a volta da esquerda pregando milagres.

Mas não adianta salvar as pessoas do virus se elas não tiverem o que comer em seguida. Vão morrer de fome. Não adianta trancar tudo para salvar os 10% dos infectados que morrem em decorrência do virus se isso significa ameaçar a vida dos outros 90% por falta de remédios, comida, eletricidade, água.

Supermercados e farmácias não se abastecem sozinhos. Crianças não são educadas sem escolas. Lojas de roupa precisam das fábricas, como o cidadão precisa da loja para não andar nú ou em farrapos. A não ser que saiba costurar, mas também não terá onde comprar agulha, linha e tecido se todas as lojas quebrarem.

Existe a fase em que o comércio fechado gera prejuízos e demissões, a atual, mas o governo federal foi exemplar nas medidas que tomou. A perda de empregos e o fechamento de empresas foi imensamente menor do que seria ou do que aconteceu, por exemplo, nos Estados Unidos. Só de desempregados ele já tem 36 milhões a mais que há dois meses.

No Brasil, o adiamento de parcelas de empréstimos, novos empréstimos com garantia do Tesouro, pagamento de parte dos salários pelo Governo Federal, adiamento de impostos, entre outras, foram medidas inteligentes que colocaram o país à frente dos europeus.

O problema é entrar na segunda fase, aquela em que o fechamento das empresas já dura tanto que nem essas medidas são suficientes para evitar a falência da maioria e o desempego em massa. Algo que o ministro Paulo Guedes chama de "desestruturação da economia". Eu chamo de caos.

É a situação em que as empresas que sobraram não conseguem mais produzir o suficiente para a necessidade das pessoas. Quando supermercados ficam com as prateleiras vazias, faltam remédios essenciais, o combustível é racionado, assim como a água e a energia elétrica. É o que acontece na Venezuela, só que lá começou bem antes da pandemia.

A falência em massa gera milhões de pessoas sem dinheiro para as necessidades básicas e menos consumidores, o que gera mais falência e desemprego. A decadência do comércio, da indústria e dos serviços reduz enormemente a arrecadação de impostos, o que leva as prefeituras e estados a também falir.

Com menos dinheiro arrecadado com impostos, nenhum governo poderá pagar Bolsa Família, auxílios e benefícios, manter escolas públicas nem serviços essenciais, consertar estradas, manter a iluminação das ruas, a segurança, o transporte, muito menos o SUS.

Quem trabalha na rua não terá onde almoçar, por falta de restaurantes. Se voce precisar de lâmpada, disjuntor, uma resistência de chuveiro, reparo de torneira, cola, ferramenta, pilhas, um chaveiro para abrir a porta, um encanador, um eletricista, água mineral, gás, absorvente, shampoo, sabonete, seja lá o que for, não vai encontrar.

A discussão sobre salvar CNPJs ou CPFs é idiota porque os dois são uma coisa só. Um CNPJ é formado por CPFs e trabalha para manter a vida dos CPFs. Salvar só um ou outro é não salvar ninguém.

Posted by at 11:37 PM
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