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25/09/20

Repetindo o erro com ACM

A política, principalmente a baiana, está cheia de histórias deliciosas, de intriga, traições, erros grotescos, avaliações mal feitas e de gente pagando pelos pecados. Um dos personagens da Bahia cometeu, neste mês, um erro muito parecido com um que lhe custou caro nos anos 80.

Nesta semana Benito Gama (ou "Grana", como era conhecido naquela época) foi destituído do comando do PTB na Bahia, levando esporro. Ele tinha fechado apoio a Bruno Reis, candidato de ACM Neto, para a campanha a prefeito deste ano, mas sem consultar Roberto Jefferson, presidente nacional.

Ocorre que Jefferson é bolsonarista e o prefeito de Salvador vem dando declarações contra o presidente, se alinhando com o PT e o PSDB nesta ofensiva. Jefferson não gostou nem um pouco, mandou o partido retirar o apoio a Bruno Reis e cortou as asas de Benito.

40 anos depois, Benito repetiu um erro em situação com um ACM envolvido. Nos anos 80 o ACM era o original, avô do atual e dono absoluto da política baiana, a ponto de eleger João Durval com menos de 30 dias de campanha, logo após a morte de Clériston Andrade numa queda de helicóptero.

Fazendo um parêntese, meu pai, Manoel Leal, estava destinado a morrer naquele acidente e não assassinado a mando de certo prefeito corrupto que todas sabem quem é. Clériston estava indo fazer comício em Firmino Alves, base de influência de meu pai, que iria com ele.

Porém, pouco antes da decolagem, Luiz Eduardo pediu a meu pai para ficar em Itabuna e ir no dia seguinte, de carro, com ele. Playboy inveterado naquela época, Luis queria curtir a noite numa boate antes de "trabalhar" na campanha. Anos depois se tornaria um dos maiores políticos que tivemos.

O helicóptero levava, além de Clériston e assessores, uma montanha de cartazes e papel pesa. Foi justamente o excesso de peso que fez com que a aeronave caísse, matando o candidato a menos de um mês da eleição. Perguntado no dia seguinte, por uma repórter, como faria para eleger outro nome, ACM foi irônico.

"Minha filha, eu elejo até um poste em 20 dias. se quiser posso eleger voce". Não era exagero e ele provou, buscando um sertanejo totalmente desconhecido fora de Feira de Santana, João Durval Carneiro, que ainda por cima era ruim de fala e ao vivo parecia muito com um poste. Foi eleito com folga. Assim era a força de ACM.

Voltando a Benito... numa eleição nos anos 80 ele começou a espalhar que seria o candidato a governador pelo grupo de ACM na disputa seguinte, porque "teria mais votos que Luis Eduardo" na eleição para deputados daquele ano. Tudo sem combinar com o cacique. ACM deixou quieto, não falou nada.

Dois anos antes, o médico Antonio Menezes, pessoa muito querida em Itabuna, amigo de meu pai e dono de um coração enorme, tinha cometido um pecado. Ele se recusou a cumprir uma ordem de ACM, que não respondeu nada, mas guardou a ofensa em seu saquinho de maldades.

Dono de uma memória prodigiosa, ela funcionava ainda melhor para quem fazia desfeitas a ACM. Ele esperou dois anos e viu a oportunidade de dar o troco nos dois ao mesmo tempo. Benito era candidato a deputado estadual, assim como Menezes. O primeiro teria realmente a maior votação naquela ano e o segundo "estava eleito".

Tudo isso até 30 dias da eleição, quando ACM ligou para meu pai e os outros homens de confiança que tinha no sul da Bahia com uma ordem insólita: "descarreguem todos os votos em Roland Lavigne, de Canavieiras". Atônitos, todos perguntaram "quem?" Ninguém sabia quem era Roland, mas cumpriram a ordem.

O resultado, antevisto por ACM muito antes do eleitor depositar seu voto, foi Benito ficar na quinta ou sexta colocação e Menezes perder uma eleição garantida. De quebra, ele fez uma nova liderança, totalmente obediente a ACM, que só definhou por erros próprios e com a morte do cacique.

Posted by at 7:36 PM
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