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03/10/20
Em professor não se bate
Um levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) me deixou triste e revoltado. Ele diz que o Brasil lidera as agressões a professores em escolas. Fico triste porque o professor é a pessoa mais importante em nossas vidas, depois de nossos pais.
Cabe a ele uma parte importante de nossa formação, não apenas escolar, mas para a vida. Cada professor que tive foi responsável por um pedaço de meu caráter e personalidade, de minhas qualidades. A vida foi responsável pelos defeitos...
Faço um parêntese para avisar que quando escrevo "professor" o faço para facilitar a comunicação. Voce é inteligente o suficiente para saber que me refiro tanto a homens quanto a mulheres. Eu jamais usaria a expressão imbecil "professox", coisa da pistolagem virtual do politicamente idiota que tomou conta de parte da imprensa.
Voltando ao assunto, acho inaceitável que o Brasil conviva com marginais nas escolas, pessoas que agridem alguém que dedica sua vida a ensinar, transmitir sabedoria, formar caráter. E não me refiro só a alunos, porque hoje em dia pais mal formados também se tornaram parte do problema.
Ao invés de educar e de repreender o filho rebelde, violento, arrogante, machista ou mau caráter, esses pais e mães vão à escola agredir professores que deram uma nota ruim ou chamaram a atenção da cria mimada. Pior, é um círculo vicioso, de pais defeituosos formando filhos defeituosos que serão pais defeituosos.
O levantamento da OCDE traz dados concretos. Dos mais de 100 mil professores no Brasil, 12,5% afirmaram ser vítimas de agressões verbais e intimidação de alunos. Em São Paulo, a GloboNews apurou que as agressões contra os professores cresceram 73% em 2018.
Já uma pesquisa feita pelo Sindicato dos Professores de São Paulo aponta que mais da metade dos docentes da rede estadual já sofreu agressões, sendo as mais comuns a verbal (44%), discriminação (9%), bullying (8%), furto ou roubo (6%) e agressão física (5%).
Por favor, não imagine que os casos acontecem só em escolas públicas de bairros pobres. Não, a arrogância de muitos pais de classe média e ricos é igual. Porque pagam uma mensalidade, alguns acham que os professores são empregados e seus filhos, intocáveis. Levar uma nota baixa é inaceitável.
Eles incentivam o filho a se impor sobre os professores, a questionar qualquer ordem que não seja de seu agrado. Daí a violência quando eles percebem que só xingar não afetou o professor. É a frustração de quem não tem argumentos, de quem está errado mas não aceita "perder" uma discussão.
Mesmo se não houver agressão física, aquelas verbais causam todo tipo de danos psicológicos nos professores.
A Secretaria de Educação de São Paulo deu 3.055 licenças por doenças relacionadas ao estresse e à depressão em 2019. No Rio de Janeiro, a cada três horas um profesor recebe uma licença por estresse.
A Universidade de São Paulo (USP) elaborou uma cartilha sobre violência escolar onde lista alguns dos principais problemas de saúde sofridos pelos professores.
Começa com sintomas psicossomáticos, como dor de cabeça, tontura, náusea, diarreia, enurese, sudorese, taquicardia, dores musculares, alterações no sono. Segue por um estresse que aumenta a disposição para doenças.
Também diminui a resistência imunológica. A lista inclui ansiedade, medo, raiva, irritabilidade, inquietação, cansaço, insegurança, tristeza, isolamento, impotência, baixa autoestima, rejeição, angústia, depressão e, o mais perigoso, pensamentos suicidas.
A cartilha destaca ainda o prejuízo para os professores na socialização, aumentando o isolamento social, gerando uma insegurança que pode afetar sua confiança nas outras pessoas, a capacidade de se expressar em público, de resolver conflitos e de tomar decisões.
Tudo isso porque alguns pais não educam seus filhos.
Está na hora de mudar as leis para criminalizar os pais omissos pelos excessos dos filhos. Professor merece flores e respeito. O agressor, cadeia.