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06/03/21
Números não mentem. Nem com Covid
Amigos e seguidores do governador da Bahia, Rui Costa (PT), me atacam porque questiono a ladainha exigindo mais vacinas, como se o estado tivesse uma excelência em vacinar, como se estivesse vacinando mais rápido do que chegam vacinas. É um discurso politiqueiro, sem base na realidade.
Desde que recebeu o primeiro lote, a Bahia não conseguiu usar nem metade das vacinas. Quando chega perto disso, vem um novo lote do Ministério da Saúde e a percentagem volta para menos de 50%. Não é culpa do governador, já que a vacinação é municipal. Mas o discurso cínico é.
Sim, a entrega de vacinas é do Governo Federal, a distribuição é do estadual, mas a vacinação é municipal. No momento (5 de março), nosso ritmo é de 14.069 aplicações por dia. Assim, levaríamos 2.084 dias para aplicar as 29.324.653 doses que faltam (incluindo a segunda). São mais de 5 anos. Acabaria em 2026.
As cidades precisam acelerar para 97.748 imunizações por dia para dar as duas doses até o final de 2021. Por sua vez, o Governo Federal tem que entregar 2.932.440 doses por mês à Bahia. Não é achismo nem opinião. São os números. Mas a quantidade de vacinas recebidas por mês é só um lado da questão.
O detalhe é que os municípios, onde a vacinação realmente acontece, estão num ritmo lento demais. Um dos problemas é que o contingente de médicos, enfermeiras e técnicos que estão aplicando a vacina é o mesmo que existia antes da pandemia e que precisa dar conta de todas as outras demandas da Saúde.
O governador recebeu R$ 62 bilhões, com "b", do Governo Federal desde o início da pandemia para combater o virus. Devia ter comprado testes rápidos para fazer testagem em massa e isolar os infectados. Não comprou. Só testou 5,5% da população. Devia ter contratado profissionais de Saúde suficientes. Não contratou.
Imaginando que cada aplicador leve 5 minutos para vacinar e trabalhe 8 horas por dia, em um dia vacina 96 pessoas. Logo, precisamos de 1.018 aplicadores no estado, mais o pessoal para tirar a folga deles, se quisermos atingir aquela meta de 97.748 aplicações por dia.
Se o estado tiver esses 1.018 aplicadores, mais a turma do revezamento, teria que receber, toda semana, 734 mil vacinas, número que só deve virar realidade a partir de abril. Então, o governador poderia ir montando esta equipe para estar pronta quando o fluxo de vacinas permitir este desempenho, com capacitação em cada cidade.
Uma boa opção seria pedir que o Governo Federal enviasse um contingente das Forças Armadas para ajudar na vacinação. Na grande epidemia de dengue em 2009 foram os militares, com sua excelência em organização e logística, que resolveram o problema em Itabuna, por exemplo.
O governador da Bahia não fará isso, porque prefere posar de vítima do que ser estadista e não quer perder seu discurso anti-Bolsonaro, em quem tenta jogar a culpa pela pandemia. Rui esquece que no ano passado promoveu o maior carnaval do Brasil, em várias cidades baianas, com o virus já circulando por aqui e alerta de pandemia.
Não estava sozinho, porque ACM Neto foi cúmplice na festa. Mas a liberação dos comícios e passeatas nas eleições para prefeito é exclusivamente responsabilidade de Rui Costa. Não só liberou geral, como participou de passeatas imensas, com todo mundo - incluindo ele - sem máscara. As fotos não mentem.
Se Rui quer se redimir e assumir a responsabilidade de quem foi eleito para cuidar dos baianos, ele deve tomar, de imediato, três medidas. Liberar o tratamento precoce, fazer testagem em massa e contratar vacinadores ou pedir ajuda externa para acelerar a vacinação.
Lágrimas, verdadeiras ou ensaiadas, não resolvem pandemia nem salvam vidas.
Ações sim.