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03/08/21
Itabuna pode renascer
Sou do tempo da Itabuna rica e não tenho medo de revelar minha idade com isso, porque fui um privilegiado.
Eu vi e vivi a Itabuna dos sonhos, onde dinheiro brotava nas ruas e dava em árvores, de cacau. Crescer em Itabuna nas décadas de 70 e 80 era crescer numa bolha de paraíso.
A cidade era tão rica que as fábricas de automóveis e motos, quando lançavam um novo modelo, mandavam o primeiro lote para Itabuna. José Soares Pinheiro, um visionário esquecido pela população, foi 8 anos seguidos a Seattle receber o prêmio de maior vendedor da Ford no Brasil.
Nas ruas, só existiam carros zero quilômetro, dos particulares aos táxis. O ensino público era melhor que o particular, preferido apenas por status. Eu posso afirmar, porque estudei nos dois sistemas. O comércio local dava inveja aos lojistas de Salvador.
Fazendeiros de cacau compravam sem perguntar o preço e ostentavam em tudo, das roupas e eletrônicos comprados no exterior a jóias e whisky 12 anos em abundância. Itabuna tinha cinco boates de luxo, seis clubes sociais super movimentados, sete cinemas e várias "zonas".
A juventude se dividia entre as praias de Ilhéus (as de Cururupe, Milionários e da Batuba), os clubes e a Beira Rio, onde todo domingo era de estacionamento cheio de gente batendo papo, namorando, dando cavalos de pau com os carros, se divertindo. De noite, bares e boates com nível de capital e até um boliche.
Não faltavam shows com atrações nacionais de peso. Ter avião particular estacionado no aeroporto local não era uma novidade. Festas de arromba da "high society" também não. Itabuna vivia uma cena cultural intensa, dinâmica, cheia de artistas talentosos e eventos.
A vida era assim, farta, divertida, tranquila, moderna, até o fim dos anos 80. A partir daí, a vassoura de bruxa que assolou o cacau e os péssimos prefeitos que destruíram a alma de Itabuna fizeram a cidade entrar em decadência.
Não tinha mais cinema. Ficou sem um por 10 anos, até a chegada do Shopping Jequitibá, um grande marco da retomada econômica de Itabuna. Não tinha mais boates, nem clubes.
Quem tinha um avião particular vendeu ou teve tomado pelo banco. Os ricos de antes passaram a viver mais do nome que da carteira. Até o esporte, que tinha eventos todo mês, parou de vez.
Os carros envelheceram, o comércio viu lojas históricas fecharem suas portas, das Pernambucanas à Doll Modas, de Os Gonçalves às Lojas Ipê, da Makro à Lorva. Acabaram as festas. A cultura até se manteve por um tempo, mas capitulou a partir de 2010.
Não estou escrevendo isso por saudosismo nem para lamentar. O que passou não tem como voltar.
Escrevo para lembrar que Itabuna já foi grande, poderosa e boa de se viver. Se já foi, pode voltar a ser. Depende de cada pessoa cobrar das autoridades uma gestão decente.
Nos últimos 10 anos, Itabuna atraiu lojas premium para o shopping, atacados de grande porte (sim, eu sei que estão no território de Ilhéus, mas visam mesmo Itabuna).
Ela tem uma excelente cobertura de mídia, telefonia e internet; um comércio ainda forte, completo e diversificado; um povo que gosta de comprar e se divertir. E trabalha muito.
A cidade tem potencial para voltar a ser a meca baiana que foi no século passado.
Eu, sinceramente, já estava desistindo de Itabuna, mas o início da gestão de Augusto Castro me anima.
A equipe tem nomes de qualidade e vem fazendo um árduo trabalho para recuperar a estrutura e os serviços.
Destaco a reforma dos acessos da cidade, o projeto de urbanização da Av. Manoel Chaves e da duplicação da saída para Ilhéus. Gosto das ideias de Almir Melo Jr, do arrojo de Guinho no esporte. Aplaudo a reabertura das piscinas do Ciso e a volta da hidroginástica.
Muita coisa ainda tem que ser feita para melhorar o centro, dar dignidade aos bairros, resgatar a cultura, oferecer boas e novas opções de lazer, criar um ambiente que atraia mais investimentos.
Mas estou animado.