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Sem liberdade de imprensa

    Todo mundo comemora 3 de maio como o Dia da Liberdade de Imprensa, mas comemorar o quê? O Brasil não tem liberdade de imprensa. Ou melhor, tem somente nas capitais, e nem sempre.
     No interior, a liberdade da imprensa termina na ponta de uma bala. Jornalistas que sentem na veia a necessidade de buscar a verdade, que se dedicam a investigar todos os fatos, que têm a coragem de denunciar gente poderosa que deveria estar na cadeia... estes são sequestrados, espancados, ameaçados e mortos.
     É assim há muito tempo e, a julgar pelo comportamento de governadores, delegados, promotores e juízes, vai continuar assim durante muitas décadas. O Brasil vai entrar no novo milênio com práticas do início do século, quando escravos eram chicoteados nas ruas e quem abria a boca para criticar era morto. A diferença entre os escravos e os jornalistas é que os primeiros conseguiram alforria.
     Leis? Ora, as leis. Nos últimos 20 anos dezenas de jornalistas foram ameaçados, surrados e assassinados no Brasil. Nenhum - preste atenção nisso - nenhum assassino ou mandante foi preso ou sequer indiciado. Nenhum.
     Em compensação, vários jornalistas foram processados, condenados, e alguns presos, por acreditar nos artigos da Constituição Brasileira que garantem a liberdade de opinião, expressão e imprensa. Por acreditar que as leis são para todos. Por acreditar que a função da policia é prender bandidos, ricos ou pobres. Por acreditar que o judiciário é "justo" e independente.
     A liberdade de imprensa no Brasil é uma miragem, e muitos jornalistas pagaram com a vida por acreditar nela. A impunidade dos assassinos de jornalistas e seus mandantes é garantida no Brasil pela omissão das policias civis e militares, e do judiciário. O problema é que todo assassinato de jornalista está ligado a denúncias feitas contra políticos ou policiais ligados ao estado.
     Como é a polícia do próprio estado quem "investiga" os crimes, e o judiciário do próprio estado quem decide se arquiva ou não os casos, a impunidade tem sido garantida quase oficialmente. Por causa disto defendo uma nova lei para crimes contra a imprensa.
     Todo crime (ameaças, surras, atentados e assassinatos) contra jornalistas e veículos da imprensa deveriam ser investigados obrigatoriamente pela Polícia Federal, acompanhados por promotores federais e julgados somente em tribunais superiores.
     Para quem acha exagero, lembro que nenhum país pode ter democracia e respeito aos direitos de seus cidadãos sem uma imprensa livre. Pior do que não ter democracia é achar que a temos, quando na verdade informações importantes são sonegadas a você por medo. Medo de morrer. Porque até agora, quem mata jornalistas nunca é punido.
     No Brasil, continua aberta a temporada de caça ao jornalista. Quem será o próximo?

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