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Crimes de guerra do mocinho

    Muita gente comemorou o indiciamento do presidente yugoslavo, Slobodan Milosevic, por crimes de guerra, apesar de nenhuma prova concreta ter sido revelada até hoje. Se existem, estão em segredo.
     Nada contra indiciar quem comete crimes de guerra. É o certo e o normal. O problema é quando o mocinho do filme é tão criminoso quanto o bandido. E pior, fica impune e sai com cara de bonzinho e defensor do "mundo livre". Quem vai julgar os crimes de guerra da Otan?
     Surpreso? Então você só tem visto a parte da imprensa que é guiada e instruída pelas entrevistas coletivas da Otan, onde os jornalistas chamam os generais pelo primeiro nome e só fazem perguntinhas dóceis.
     É mais do que obvio que os ataques a hospitais, pontes, escolas e outros alvos civis nunca foram "erros trágicos", como a imprensa rosa vem divulgando. Ninguém "erra" atirando dois misseis em sequência num alvo civil. Sem falar que as armas atuais, guiadas a laser, sempre acertam o alvo.
     Dos crimes de guerra de Milosevic, supeita-se mas não há provas concretas. Diga-se de passagem que nenhuma das mulheres supostamente estupradas por soldados sérvios foi submetida a exames para comprovar a penetração forçada. Algum soldado deve ter estuprado alguma mulher, como os americanos cansaram de fazer no Vietnam (por falar nisso, cadê a punição?). Mas não existem provas.
     Assim como o tribunal de Haia se calou sobre as atrocidades cometidas pelo exército americano no Vietnam e no Cambodja, mesmo reconhecidas pelos próprios soldados, ele agora vai se calar sobre os crimes de guerra da Otan, que já matou mais de dois mil civis por medo de enfrentar os sérvios no chão. Preferem a tranquilidade de jogar bombas do alto, mesmo matando inocentes.
     A imprensa nesta guerra, assim como na do Golfo, se omite de forma igualmente criminosa ao repetir a propaganda de guerra americana (Milosevic é o novo Hitler, os EUA são o paladino do mundo) sem questionar, investigar, buscar a verdade, coisas que são o alicerce de sua liberdade.
     Esta mesma omissão garantiu a impunidade de criminosos em outros casos famosos, como o assassinato do Papa João Paulo I (se você ainda acha que ele morreu de ataque cardíaco normal, leia o livro In God's Name, de David Yallop, à venda na Amazon.com).
     O importante agora é submeter a Otan às mesmas regras e leis que os países são obrigados a cumprir (os que não fazem parte do G8, com certeza). Coisas como ter que declarar guerra oficialmente antes de atacar outro país; não usar bombas de estilhaços nem material radioativo nas bombas; não atacar prédios ou pessoas da imprensa; não atacar serviços públicos ou civis; obter licença da ONU antes de atacar outro país, etc. Ou seja, tudo o que a Otan vem fazendo impunemente.
     Dizem que o Brasil é um lugar onde as leis são relativas. Pelo jeito o mundo também o é.

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