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Foi dia do quê mesmo?

    Novamente estamos "comemorando" o Dia da Liberdade de Imprensa. Mas comemorando o quê? O Brasil não tem liberdade de imprensa. Isto é uma lenda para quem acredita em fadas ou em democracia sem imprensa.
     Por lei, nossa imprensa é livre para publicar o que quiser, mas na prática é a lei do poder, das armas e dos novos coronéis que impera. Leia o artigo que fiz para o outro Dia da Liberdade de Imprensa e depois volte aqui para continuar.
     Agora que você voltou, deixe eu te dizer que boa parte da culpa desta ditadura disfarçada é da própria imprensa, principalmente dos grandes veículos nacionais, que tratam o assassinato de um jornalista como nota pequena de canto de página.
     Nenhum caso registrado em 1998, por exemplo, foi acompanhado, esmiuçado e investigado pela imprensa como ela fez nos de PC Farias e Ceci Cunha, por exemplo. No caso dos jornalistas assassinados em 98 a coisa é mais grave para o País, porque cala o resto da imprensa pelo medo de morrer.
     Por que alguém vai denunciar políticos e policiais corruptos se poderá pagar com sua vida ou a de sua família pela ousadia? Por que defender uma sociedade que não protege a função do jornalista? Para que arriscar a vida se os próprios colegas da grande imprensa não se importam com sua morte?
     Um dos casos de 98 foi de meu pai, Manoel Leal de Oliveira, por isso posso falar com segurança sobre a omissão da própria imprensa. Com excessão dos jornais Tribuna da Bahia e A Tarde, e da revista Carta Capital, o assunto não mereceu mais que uma rápida menção nos outros veículos.
     E isto apesar de um intenso trabalho de press releases feitos por mim na tentativa de manter o assunto em evidência e criar pressão sobre a policia civil da Bahia, que "investigou" o caso. A grande quantidade de erros e omissões cometidas pelo delegado João Jaques Valois e o promotor Ulisses Campos Araújo poderia ser evitada com o acompanhamento da imprensa nacional.
     O caso terminou arquivado, como os outros nove assassinatos cometidos contra jornalistas na Bahia durante os governos de Antonio Carlos Magalhães e Paulo Souto, entre 1991 e 1998. E como todos os outros casos de jornalistas assassinados no Brasil desde 1500.
     Persistente na hora de cobrar respostas para casos como o de PC Farias, a imprensa em geral é omissa em relação aos atentados à sua própria liberdade. O Globo, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Isto É, Época, Veja, Rede Globo, SBT e companhia só vão se importar quando a vitima for um deles. Ou quando perdermos de vez a liberdade.
     Para comemorar a liberdade de imprensa no Brasil, é preciso primeiro conquistá-la de verdade.

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